Silentismo (silêncio + brilhantismo

É engraçado pensar em nossos músicos favoritos ainda no começo. Preparando-se para se apresentar numa esquina, quando ainda ninguém sabia quem eram. Surge a pergunta: se você estivesse lá, passando pela calçada enquanto eles tocavam uma de sua primeiras obras-primas, teria notado? Teria parado para ouvir? 

 É estranho que algo tão vibrante como a arte possa ser quase invisível. Raramente olhamos a arquitetura, ou saboreamos cada bocado de uma refeição bem preparada, ou paramos para prestar atenção na música de fundo, que é bem melhor do que tem o direito de ser. Só depois que alguém comenta é que você passa a ouvir. 

 Podemos nos perguntar quanta genialidade existe ao nosso redor, escondida bem à vista, só esperando para ser notada. Quem sabe com quantos Van Gogh você já cruzou na rua, ocupados fazendo seu trabalho, faltando apenas alguns anos para serem descobertos? Talvez a próxima Emily Dickinson more bem ali no fim da rua, com uma obra-prima não publicada, e talvez, como nós, nem faça ideia. 

 Achamos que se uma obra é boa, com certeza vai encontrar um público. Mas talvez isso seja apenas por acaso. Por acaso eles ainda não são famosos. Por acaso a pessoa certa os procurou. Na arte, assim como no amor, a nunca se sabe como duas pessoas se encontram, se é que chegam a se encontrar. 

 Imagine quanta coragem é preciso para colocar um case de violão na calçada, começar a tocar, esperando que a música comova alguém. Continuar derramando o coração, mesmo diante de ouvidos surdos. Procurando atingir as pessoas apesar da indiferença, procurando dar a elas um motivo para se importarem. 

 A indiferença é fácil. Exige muita coragem resistir a ela. Então talvez tenhamos que parar e agradecer por ainda existirem pessoas lá fora travando o bom combate. 

 Em 2007, o genial violinista Joshua Bell se apresentou ao vivo em uma estação de metrô, tocando seu inestimável Stradivarius por quase uma hora. No final, apenas sete pessoas entre mil pararam para ouvi-lo. Sem aplausos. Ganhou 32 dólares. Mas, como observou o colunista do Washington Post Gene Weingarten, "toda criança passava por ele tentava parar para assitir. E toda vez, o pai ou a mãe a arrastava para longe." 

 [Traduzido de 'Dictionary of Obscure Sorrows']

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