Experimente mais coisas: os benefícios dos autoexperimentos de 30 dias

Original: rosieleizrowice.com/blog/self-experimentation

 

Será que flutua?

 

 

arqueologia experimental é um campo de estudo em que os pesquisadores aprendem mais sobre a História recriando algo que as pessoas no passado fizeram ou usaram para ver como ela funciona. Por exemplo, pesquisadores tentaram transportar pedras do mesmo tamanho e peso que as usadas em Stonehenge por distâncias semelhantes usando a tecnologia disponível na época para ver como isso poderia ter sido feito.

 

Coisas inesperadas sempre acontecem quando uma teoria se encontra com a realidade. Pôr à prova uma hipótese fazendo algo tangível no mundo real pode trazer à tona informações que não aparecerem ao teorizar ou estudar hipóteses.

 

Não importa o quanto tenhamos aprendido em teoria sobre, digamos, uma técnica de construção de canoa que acreditamos que as pessoas usavam há mil anos, experimentá-la nós mesmos é a única maneira de responder a uma simples pergunta: será que ela flutua?

 

São necessárias evidências para que possamos saber qualquer coisa com certeza, e as evidências vêm de experimentar as coisas. No geral, em campos formais de investigação como arqueologia e medicina, é assim que as dúvidas são eliminadas.

 

Mas nem sempre somos tão rigorosos quando se trata de tirar conclusões sobre nós mesmos. Achamos que nos conhecemos muito bem e não precisamos de experimentos.

 

Na minha opinião, a autoexperimentação é uma das melhores maneiras de aprender coisas novas sobre nós mesmos, testar expectativas e crenças, descobrir novos caminhos de investigação e potencialmente modificar aspectos de nossa vida de forma duradoura. Também é incrivelmente divertido.

 

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Algumas crenças que temos sobre nós mesmos não têm evidências

 

 

Sempre que me deparo com um conceito ou informação interessante com possíveis aplicações na minha vida, minha primeira reação é convertê-lo em uma ideia para um experimento de um mês que eu poderia fazer em mim mesma.

 

Um mês é tempo suficiente para estimar como algo pode influenciá-lo a longo prazo. É um período longo o suficiente para testar como mudar uma determinada variável em sua vida pode funcionar em várias situações. Ao mesmo tempo, é curto o suficiente para que um experimento não perca sua novidade. Também, potenciais efeitos negativos ficam contidos. Começar uma experiência difícil ou especulativa é mais fácil com uma linha de chegada clara que não pareça muito distante. Sem uma linha de chegada em mente, será preciso decidir entre tentar algo por um tempo indefinido ou desistir, o que é intimidante.


Há um ponto claro no qual você vai parar, rever o que você aprendeu, e então decidir se vai voltar ao normal, ajustar a variável novamente ou seguir com o experimento.

 

É impossível falhar em um experimento. O propósito é coletar informações sobre você mesmo. Experimentos fracassados podem acabar sendo os mais informativos e abordá-los com curiosidade torna tudo um pouco mais agradável.

 

Em resumo, acredito que praticamente qualquer um pode se beneficiar com pelo menos um autoexperimento por mês. Mais do que isso até pode funcionar, mas limitar-se a um projeto de cada vez por área da vida é melhor porque dá para ter mais certeza dos efeitos e evitar excesso de projetos.

                                                                               

Nos últimos anos, vários dos meus experimentos de curto prazo levaram a lugares inesperados, e acabaram tendo um impacto duradouro na minha vida. Alguns foram um desastre e eu os interrompi depois de alguns dias ou semanas. Alguns decidi continuar por muitos meses ou até anos. Mas até hoje nunca me arrependi de um autoexperimento.

 

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A experiência pessoal pode gerar os dados mais úteis

 

 

Em muitas áreas de nossas vidas, como sistemas de produtividade e ao desenvolver habilidades sociais, obter experiência pessoal é mais útil do que coletar montanhas de dados das outras pessoas.

 

Isso não significa que devemos desconsiderar a pesquisa que já existe e os conselhos dos especialistas. Mas quando não há uma solução que sirva para todo mundo, e as mesmas informações inicias ou técnicas geram resultados variados para pessoas diferentes, temos que intervir e experimentar. Temos que fazer testes e ajustes até encontrarmos a solução certa para nós.

 

Além disso, aprendemos mais rápido com a autoexperimentação do que apenas lendo sobre as coisas. As informações que coletamos dessa forma são pessoais e viscerais.

 

Todo mundo tem um plano até levar um soco na cara. Podemos pensar que sabemos o que é preciso para bater papo em cafeterias, enviar e-mails de divulgação impessoais ou ir para a cama mais cedo.

 

Mas não sabemos de nada até testarmos as coisas. Podemos planejar tudo, exceto as coisas mais inesperadas, e essas é que tendem a ter o maior impacto.

 

A autoexperimentação também funciona como um ponto de partida de baixo risco antes de prosseguir para maneiras mais formais de coletar dados, um estudo piloto rudimentar, se você quiser. Nos tempos dos cientistas aristocratas, muitos pesquisadores notáveis testavam ideias embrionárias em si mesmos, quando não havia voluntários, ou para desenvolver os primeiros esboços de uma hipótese. Por exemplo, o psicólogo Herman Ebbinghaus (1850–1909) realizou em si mesmo a pesquisa que o levou a descobrir o efeito de espaçamento. Quando o químico Albert Hoffman (1906–2008) descobriu a dietilamida do ácido lisérgico (LSD), ele experimentou ingeri-la, no que ficou conhecido como "Dia da Bicicleta". Para os cientistas, a autoexperimentação pode ser uma fonte útil de novas ideias.

 

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É bom tentar coisas!

 

 

Abaixo, mais alguns motivos pelos quais tentar coisas novas uma boa ideia em geral.

 

·         Quanto mais você experimenta em si mesmo, mais você se acostuma com a ideia de estar errado sobre suas principais crenças sobre si mesmo. Você pode andar por aí anos a fio carregando falsas suposições que poderiam facilmente se dissolver com apenas um experimento. Com autoexperimentos, você pode se acostumar a estar errado sobre si mesmo.

 

 

·         A novidade é boa! O efeito da novidade afirma que nosso desempenho tende a melhorar com o uso de um novo dispositivo, não porque isso realmente nos torna melhores, mas porque ficamos mais animados ao usá-lo. Experimentar uma nova ferramenta ou técnica por um curto período pode nos tornar melhores apenas por causa da novidade (veja: considere mudar frequentemente seu sistema de produtividade.)

 

 

·         A maioria das intervenções não acrescenta muito a longo prazo. Pelo menos, isso é verdade em áreas como psicologia e ciências sociais. A novidade desaparece e as coisas voltam à mediocridade. A nova forma de terapia que levou a uma redução de 78% na depressão em um pequeno estudo inicial não se mostrou mais eficaz do que as opções que já existiam em um estudo de dez anos com milhares de pacientes. O mesmo se deu com um novo programa educacional para crianças pré-escolares desfavorecidas que parecia bom em um documentário dramático. Obviamente, isso não se traduz diretamente em experimentos que os indivíduos fazem consigo mesmos, mas sou cético em relação a se pequenos ajustes no estilo de vida (facilmente alcançáveis, diferente de parar de fumar, por exemplo) têm impactos drásticos a longo prazo.

 

 

·         A autoexperimentação ensina algumas habilidades com grande valor. Por exemplo, como formar novos hábitos, como identificar áreas fracas, como medir características suas de forma objetiva.

 

 

·         Grandes expectativas são boas! Se você iniciar um autoexperimento de curto prazo esperando que ele tenha benefícios positivos dramáticos para o seu bem-estar físico/psicológico, há uma boa chance de que isso aconteça puramente devido ao efeito placebo. Mesmo que a coisa em si não faça nada. Mesmo que pensemos que algo é um placebo ou saibamos com certeza que é, ainda podemos experimentar os efeitos. Tentar coisas com uma boa chance de não surtirem efeito ou um efeito placebo é melhor quando você visa obter um resultado subjetivo ou quando os riscos são mínimos. Nossas expectativas podem influenciar os resultados. Os ensaios clínicos mais confiáveis são duplo-cegos por um motivo.

 

 

·         Desistir é bom! É bom adquirir o hábito de avaliar se algo não está mais funcionando e se vale a pena parar! Como Seth Godin sugere em The Dip“Escreva. Escreva sob quais circunstâncias você está disposto a desistir. E quando. Depois se apegue a isso."

 

 

·         Choques no seu sistema podem ser bons, se seguirmos a teoria da antifragilidade de Nassim Taleb. Meu irmão tem uma teoria de que aderir escrupulosamente a um hábito saudável em explosões ocasionais é por si só um choque benéfico para o sistema. De qualquer forma, ser muito rígido nos hábitos é uma má ideia.

 

 

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Na parte dois deste post, vou listar cerca de cinquenta ideias para autoexperimentos de 30 dias baseados nos que tentei no passado ou planejo tentar no futuro. 

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