‘Cabelo quântico’ pode resolver paradoxo dos buracos negros de Hawking, dizem cientistas
Hannah Devlin 17 de março de 2022
Com novas formulações matemáticas, não seria preciso uma grande mudança de paradigma na Física
O Paradoxo da Informação dos buracos negros, demonstrado por Stephen Hawking, atormentou os cientistas por meio século, levando alguns a questionar as leis fundamentais da Física. Agora, os cientistas dizem que podem ter resolvido o infame problema, mostrando que os buracos negros têm uma propriedade conhecida como "cabelo quântico".
Se isso estiver correto, será um avanço importante na Física Teórica.
O paradoxo de Hawking resume-se ao seguinte: as regras da Física Quântica afirmam que a informação sempre se conserva. Os buracos negros representam um desafio a esta lei, porque uma vez que um objeto entra em um buraco negro, desaparece totalmente – junto com toda a informação codificada nele. Hawking identificou este paradoxo, que por décadas continuou a confundir os cientistas.
Inúmeras soluções foram propostas, incluindo uma "Teoria do Firewall", na qual as informações queimariam antes de entrar no buraco negro, e a "Teoria do Fuzzball" que propunha que os buracos negros tinham limites indefinidos, além de várias ramificações exóticas da Teoria das Cordas. Mas a maioria dessas propostas exigia a reescrita das leis da Mecânica Quântica ou da Teoria da Gravidade de Einstein, os dois pilares da Física moderna.
O nome é uma referência à ideia, baseada na Física Clássica, de que os buracos negros podem ser vistos como objetos surpreendentemente simples, definidos apenas por sua massa e velocidade de rotação. A previsão de buracos negros “carecas”, sem características, tem sido apelidada de "Teorema da Calvície" desde a década de 1970.
Calmet e seus colegas acham que os buracos negros são mais complexos – “cabeludos”. Eles sugerem que, à medida que a matéria entra em colapso em um buraco negro, ela deixa uma marca tênue em seu campo gravitacional. Essa marca, chamada de “cabelo quântico”, segundo os autores, forneceria o mecanismo pelo qual a informação é preservada durante o colapso em um buraco negro. De acordo com essa teoria, dois buracos negros com massas e raios idênticos, mas com composições internas diferentes, teriam diferenças muito sutis em seus campos gravitacionais.
“Nossa solução não requer nenhuma ideia especulativa; em vez disso, nossa pesquisa demonstra que as duas teorias podem ser usadas para fazer cálculos consistentes para buracos negros e explicar como as informações são armazenadas, sem a necessidade de uma nova Física radical”, disse Calmet.
Não há nenhuma maneira óbvia de testar a teoria através de observações astronômicas – as flutuações gravitacionais seriam muito pequenas para serem mensuráveis. Mas é provável que a teoria passe por um escrutínio severo da comunidade teórica.
O professor Toby Wiseman, físico teórico do Imperial College London, descreveu o artigo como “um bom trabalho”, mas não acredita que possa resolver o paradoxo de décadas.
Segundo ele, o estudo basicamente sugere que pode ser possível obter algumas informações adicionais sobre o que estava dentro do buraco negro – mas não mostra que o fenômeno poderia explicar a totalidade das informações aparentemente perdidas. "Isso eles não mostraram, e esse é o ponto crucial do paradoxo", disse ele.
"Sinto que para realmente resolver esse paradoxo, você tem que entender completamente como a Mecânica Quântica e a Gravidade se unem", disse ele. "Eles estão olhando para pequenas correções, mas não para a combinação completa dos dois."
Calmet disse: “Quando você tem uma grande afirmação, você tem que mostrar evidências. Vai levar algum tempo para as pessoas aceitarem isso. O paradoxo existe há muito tempo, e há pessoas muito famosas no mundo todo trabalhando nele há anos.”
O trabalho foi publicado na revista Physical Review Letters.
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